terça-feira, 9 de março de 2010

Dengue

QUE VIVA A SOCIEDADE SANITÁRIA!

Se a Vigilância Sanitária está adormecida não sabemos, mas somente a vigilância sanitária não adianta. Carecemos de uma consciência geral: uma sociedade sanitária. Consciência essa que já vem crescendo em relação ao tabagismo, alcoolismo, a poluição, dengue, febre amarela, as doenças infecciosas, drogas etc. Um dia "D" da dengue é insuficiente. No último que foi realizado um fato marcante foi a iniciativa do poder público em providenciar a retirada das carcaças de automóveis da Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, e acabar com os macro-focos de Aedes aegypti nos ferros-velhos. Ficamos 60 anos sem o mosquito desde que o sanitarista Oswaldo Cruz acabou com os grandes focos existentes nas mini-caixas d'água (vasos de flores) dos cemitérios pondo areia nos recipientes. Naquela época, a população carente morava em barracões de zinco e neles as águas das chuvas não se acumulavam. Na década de 60, com as construções de alvenaria, a infestação recrudesceu em grande escala, principalmente pelo aumento da população e a aglomeração nas precárias habitações que acumulam as águas das chuvas em suas concavidades.
O que o Aedes quer? Sangue humano, porque precisa de proteína humana para amadurecer o embrião do mosquito que contém o vírus. Os ovos ficam mais de 300 dias em local seco com o embrião aguardando as águas para eclodir numa temperatura de mais de 40º C. O mosquito não põe o ovo dentro da água, põe-no em local seco. Faz isso na caixa d'água, onde se forma um anel acima do nível da água, e nas lajes, local que habitualmente acumula água, formando até uma mancha esverdeada (limo). Esse ambiente reduz o ciclo biológico do transmissor da dengue de 12 para 8 dias.
O Aedes quer água e sangue. A degradação das carcaças de automóveis, cujos assentos ficam impregnados com o odor dos seres humanos, atrai os mosquitos. Também as lajes, onde há objetos de todos os tipos e que acumulam água, são verdadeiros quintais abandonados que propiciam a proliferação de mosquitos. É necessário oferecer à população uma força tarefa para ajudar a retirar os entulhos, latas, latões e objetos que acumulam água nas lajes das habitações inacabadas. Quando teremos uma política para financiar a melhoria das 700 mil construções de alvenaria, lajes e habitações inacabadas no Rio de Janeiro? Isso poderia ser feito através de recursos do BNDES, com a implantação de captação de energia solar e com a economia propiciada de 30% dos custos da energia (água quente) e com a redução dos "gatos", na medida em que haja a regularização das instalações elétricas (Light). Também ajudaria utilizar o reservatório da água das chuvas para o uso de jardinagem e limpeza doméstica: a ecologia contemporânea contra o aquecimento global.
A saída é essa. O governo deve fazer a sua parte e retirar a degradação, ajudando a recuperar as habitações inacabadas sem criminalizar a dona de casa, vista hoje como vilã, afinal, os moradores já tiraram as águas dos vasos e não têm pneus dentro de casa. As autoridades assumem uma postura autoritária ao tentar vender a idéia de que a população precisa fazer a sua parte. É preciso entender que a população paga impostos há anos e que, diante desse quadro, não deve esperar pela vigilância sanitária, pois está provado que ela é insuficiente. É importante a conscientização de todos para a necessidade de criarmos uma sociedade sanitária, que assuma o controle social também da vigilância sanitária.
Atualmente a crise da saúde chegou aos mais elevados patamares daMedicina no capítulo da Propedêutica Médica e dos conceitos da Saúde Pública no que tange à definição de ingresso do paciente no Sistema de Atendimento, conceituado como Porta de Entrada. O conceito de Porta de Entrada não é simplesmente o registro da pessoa, até aí não podemos dizer que o paciente ingressou no Sistema. Os fundamentos da Propedêutica Médica nos levam à Porta de Entrada quando estabelecido o registro da pessoa, a anamnese (30 minutos), o exame físico (30 minutos), a suspeita diagnóstica, os exames complementares, o diagnóstico e o prognóstico. Neste momento se consolida, do ponto de vista do atendimento, a conceituada Porta de Entrada do paciente no Sistema.
A população não pode só assistir a esta situação sem se organizar em todos os níveis, desde o controle social, e principalmente na conscientização de todos os cidadãos por uma sociedade sanitária ativa. Diante da Síndrome do Esgotamento Profissional estamos assistindo à morte da Porta de Entrada, da anamnese, do exame físico, da suspeita diagnóstica, do diagnóstico e do prognóstico. Determinadas patologias como a dengue, meningite etc., se a Porta de Entrada não for pelos parâmetros da Propedêutica Médica, podem ser fatais, no caso da dengue, num período de 10 dias. A população deve conhecer a fundo a crise da saúde em todo o seu contexto e se conscientizar da importância da vigilância através da busca da sociedade sanitária, no trabalho, nas escolas e na comunidade.
No Fórum Econômico Mundial em DAVOS, na Suíça foi premiado o cientista que criou o Aedes transgênico para competir através do controle biológico e eliminar o Aedes aegypti natural em médio prazo. A Sociedade Sanitária deve barrar esta experiência laboratorial transgênica, pois não se sabe as conseqüências futuras desta iniciativa.
Em 1981 na epidemia de Dengue em Cuba (cepa 1 e 2) houve 146.000 internações, 24.000 casos de dengue hemorrágico, 10.000 casos de síndrome do choque da dengue, 158 mortes, a maioria crianças. Essa epidemia é semelhante ao quadro que está ocorrendo no Rio. Não há inverno para dengue na cidade. A situação é grave, a perspectiva é de ter milhares de casos que podem até passar de 200 mortes sendo dois terços em criança. Nestes anos temos combatidos as orientações do município que orientam às pessoas com sangramento a acorrerem a um hospital em uma doença que mata em 10 dias, sem valorizar a febre.
A nossa orientação é dar ênfase à febre. E na dengue a equação é: "febre é igual a hemograma >Plaquetas, hematócrito, vhs no 1º e 4º dias" e não dar alta após a febre, no que chamamos a curva da morte .Plaquetas abaixo de 50.000 hidratação venosa. Os meios de comunicação são vítimas da orientação oficial, e desconhecem que o mosquito não põe ovos em água parada mas em local seco, pois precisa de calor para a eclosão dos ovos onde, em seguida, o embrião cai na água. Isto faz grande diferença porque em uma laje os ovos são depositados nos locais aonde já teve água (mancha esverdeada) e fica aguardando por até 300 dias pelas chuvas. A miopia epidemiológica não enxerga esta situação e os macros focos continuam com milhões de ovos nas habitações inacabadas
Temos que fazer o PAC da dengue reformando as habitações inacabadas, verdadeiras mansardas do Aedes aegypti.

Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2008
Dr.Eraldo Bulhões Martins médico - clinico geral Diretor do SinMed/RJ
ebulhoes01@ibest.com.br
Escrito por André Brown às 23h57 - http://cartumfazescola.zip.net/

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